21 outubro, 2008

ROMÂNTICA INCURÁVEL

Sou uma romântica nata, daquelas de sofrer e admitir até certa doçura nesse sofrimento... Só tenho a certeza que o amor da minha vida está aí na rua esperando por mim e sempre penso que o amor presente é esse! Não tenho certeza de nada, desisti de tê-la. O que aconteceu na minha cabeça foi muito simples. Me liguei de que matéria sou feita e que tipo de diferença quero fazer nesse mundo. Se não enriqueci até hoje, sinceramente minha missão nunca foi essa. Cansei de ficar ressabiada por tudo e todos que me fizeram algo, aboli da minha existência o papel de fera ferida. Sou cabeça, meu amor. Ser a cauda do mundo é para os que mesmo com toda a possibilidade de acesso e discernimento da realidade decidiram pela mediocridade de suas vidas não se importando se alguém passa fome ou se pode – pelo menos tentar – mudar a vida do mesmo. Digo isso com a maior tranqüilidade porque durmo com a mente tranqüila embora saiba que tem gente ainda (em pleno século XXI) que pensa que pessoas que dedicam sua vida a uma causa ou são malucas ou se acham mais que os outros... Não sou nada tirando os meus atos de todo dia. Tão pequenos que são incapazes de me fazer parar... Morri para uma opção, sou mesmo do movimento social.

E cada vez que se faz uma escolha é deixado para trás aquilo que havíamos nos esforçado para conseguir. Sempre ao assumir uma nova postura ou opinião, renascemos. O novo só nasce com a morte do velho pensamento.

Prefiro assim permanecer vendo e analisando minha bagagem interior, quero carregar na vida o que serve e ir eliminando o que não serve mais.

Deixo a todos e a todas com a dupla Eduardo Galeano & Clarice Lispector, amo!


A pequena morte

Não nos provoca riso o amor quando chega ao mais profundo de sua viagem, ao mais alto de seu vôo: no mais profundo, no mais alto, nos arranca gemidos e suspiros, vozes de dor, embora seja dor jubilosa, e pensando bem não há nada de estranho nisso, porque nascer é uma alegria que dói. Pequena morte, chamam na França, a culminação do abraço, que ao quebrar-nos faz por juntar-nos, e perdendo-nos faz por nos encontrar e acabando conosco nos principia. Pequena morte, dizem; mas grande, muito grande haverá de ser, se ao nos matar nos nasce. (Eduardo Galeano)


O Nascimento do prazer [trecho]


O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar-se inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele e nós. (Clarice Lispector)

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